segunda-feira, março 12, 2007

Ressaca




Venham todas as vozes, todos os ruídos e todos os gritos;
venham os silêncios compadecidos e também os silêncios satisfeitos;
venham todas as coisas que não consigo ver na superfície da sociedade dos homens;
venham todas as areias, lodos, fragmentos de rocha que a sonda recolhe nos oceanos navegáveis;
venham os sermões daqueles que não têm medo do destino das suas palavras;
venha a resposta captada por aqueles que dispõem de aparelhos detectores apropriados;
volte tudo ao ponto de partida, e venham as odes dos poetas, casem-se os poetas com a respiração do mundo;
venham todos de braço dado na ronda dos pecadores;
que as criaturas se façam criadores;
venha tudo o que sinto que é verdade além do círculo embaçado da vidraça...
Eu estarei de mãos postas, à espera do tesouro que me vem na onda do mar...
A minha principal certeza é o chão em que se machucam os meus joelhos doloridos, mas todos os que vierem me encontrarão agitando a minha lanterna de todas as cores na linha de todas as batalhas.


Osvaldo Alcântara

(eu encontrei meu tesouro...)

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